sábado, 17 de janeiro de 2009

Ria

A idéia de que o mundo sobreviverá até o ano 3000 (e mais) me assusta. Na verdade me deixa triste. Saber que existirão sorvetes, sapatos, camisas sociais, guarda-chuvas, política, tecnologia e até mesmo arte... Me entristece. Profundamente. Isso é tristeza.
As pessoas continuarão a andar nas ruas, construirão prédios, casas e usinas nucleares... Os poemas de amor continuarão a emudecer a gente pobre e acontecerão chateações que todos chamarão de revoluções. A arte continuará pretensiosa e os gordos continuarão a escrever.
Existirão críticos de cinema, autores marginais e sanduíches de grandes redes de lanchonete. Algumas proibições se farão rígidas e vetarão os direitos de alguns...
O Brasil provavelmente continuará a mesma porcaria de sempre, com crianças que enfiam o dedo no nariz e jogam futebol. Os músicos não descobrirão nada de valor e continuarão a explorar a grande mentira que é o som. Sempre foi uma grande mentira. O som.
A linguagem será limitada e existirão Becketts que brincarão com ela. O ser humano vai foder e ter bilhões de filhos... Que serão prostituídos em nome de algo, seja esse algo a religião, a moral, a ética, a rebeldia, a arte, a lógica, o niilismo ou qualquer outro valor sem cor.
Existirão diários, cibernéticos ou não, em que os mesmos idiotas em corpos diferentes vomitarão o lixo em choque às barreiras da linguagem, dos tamanhos dos ternos e chapéus.
As gravatas terão as mesmas cores e o sol, cansado, inspirará os aventurados enquanto a lua fará companhia aos artistas cáusticos, meticulosos, os artistas que procuram por tons e temáticas que imprimam pureza.
Os puritanos continuarão a persuadir seus filhos, enquanto os anarquistas pipocarão pelo mundo em busca do sistema político que quebre tudo como é. A vida correrá solta e os tristes bancos de praça serão sempre os mesmos. O tempo passará nos relógios, e somente neles. As prostitutas realizarão fantasias de pobres meninos das periferias.

Londres poderá não ser mais Londres, mas o céu sempre será o mesmo.

As executivas reclamarão das cores dos escritórios às 18h. Os chapeleiros só figurarão as histórias e fábulas. Lerão os mesmos livros, com palavras diferentes. As padarias venderão pão. O homem se diluirá no tempo e seus filhos viverão uma vida incauta.
Filósofos buscarão verbetes mais complexos e monges cansarão as nádegas sobre os picos da Terra. Templos preencherão espaços. E tudo rodará em 36 rotações, lentamente, enquanto todos inventam-se de alguma forma.
Os namorados serão sempre os mesmos e curtirão praias, sóis e chuvas na janela. Os artistas serão inquilinos de novos caos e se gabarão disso. Os palhaços serão tão vazios como sempre foram. O verbo nunca cessará... E o vazio não vencerá o homem enquanto ele for homem. Até o (des)fim. E é por essas e outras que eu não me envergonho de ser triste.

E apenas triste.

Um comentário:

Anônimo disse...

acho melhor "Rir" mesmo, pois se chorarmos essa nossa tristeza, ficaremos desidratados.

realmente estamos presenciando um cotidiano muito triste.

- mas talvez exista uma razão pra isso, equilíbrio talvez? não sei. gostaria de saber.

- ronye düque +