terça-feira, 23 de setembro de 2008

Tudo vai ficar bem.

Sei que tudo vai ficar bem
Só não sei se vou ficar também

Eu faço tanta coisa
Pro mundo melhorar
Eu faço de um tudo
Que posso pra ajudar

Eu distribuo amor
Eu curo solidão
Mas peço por favor
Alguém me dê a mão

Sé que todo va a estar bien
Lo qué no sé es se sobreviviré
Sé que todo va a estar bien
Lo qué no sé es se yo me salvaré

Estoy comprometida
El mundo hay que cambiar
Y en esta corta vida
El verbo es ayudar

Yo distribuyo amor
Con toda soledá
Y pido por favor
Que mi tengan piedad

A vida da trabalho
Se lo digo señor
Eu digo pra senhora
La muerte es un horror

Eu luto só por paz
Ajudo meu irmão
Mas sinto que o destino
Quer me jogar no chão

Sé que todo va a estar bien
Lo qué no sé es se sobreviviré
Sé que todo va a estar bien
Lo qué no sé es se yo me salvaré

Sei que tudo vai ficar bem
Só não sei se vou ficar também
(pato fu )

até aqui.

Vivi minha vida até aqui
Até este ponto que luta
Sempre perto do mar,
Juventude nos rochedos
Corpo a corpo com o vento.
Aonde pode ir um homem
Que nada mais é senão um homem
Contando suas horas que verdejam no ábaco dos orvalhos
Contando pelas águas as visões de seu ouvido
E pelas asas seus remorsos.
Ah, vida
De um menino que se faz homem
Sempre perto do mar
Quando o sol lhe ensina
A respirar no mesmo lugar onde se apaga
A sombra de uma gaivota.
Vivi minha vida até aqui
Adição branda e total negro
Algumas árvores, alguns seixos molhados
Dedos leves para acariciar uma fronte.
A noite inteira lamentos de espera
Não há mais ninguém
Mais ninguém
Para fazer ouvir um passo de liberdade
Para fazer brotar uma voz repousada
As proas marulham contra o molhe
Traçando um nome azul no meio dos horizontes.
Alguns anos, algumas ondas
E a aproximação sensível
Das ancoragens enlaçando o amor.

Vivi minha vida até aqui
Risca amarga na areia efêmera
- Quem quer que tenha visto dois olhos afagarem o silêncio
Encontrado o calor de milhares de universos
Se lembrará de outros sóis em seu sangue
Mais perto da luz
É um sorriso que resgata a chama –
Mas aqui, nesta paisagem noviça que se perde
Num mar aberto e sem piedade
A felicidade se desnuda
Turbilhões de asas de instantes colados ao chão
Um chão duro sob a impaciência dos calcanhares
Um chão concebido para a vertigem
Vulcão extinto.

Vivi minha vida até aqui
Pedra votada ao elemento líquido
Mais distante do que as ilhas
Mais funda do que a vaga
Nas vizinhanças das âncoras
- Quando passam as carenas fendendo apaixonadamente
Um novo obstáculo que ultrapassam
E com os delfins ergue-se a esperança
Vitória do sol sobre um coração de homem –
As redes da dúvida puxam
Uma imagem de sal
Penosamente esculpida
Indiferente e branca
Que volta para o mar o vazio de seus olhos
E sustenta o infinito.

Montanha.

Ali estava, palavra a palavra,
O poema que tomou o lugar de uma montanha.
Ele respirava seu oxigênio,
mesmo quando o livro repousava no pó de sua mesa.
Lembrava-lhe como ele necessitara
de um lugar para ir em sua própria direção,
Como ele recompusera os pinheiros
Deslocara as rochas e tomara seu caminho entre as nuvens
Para a perspectiva que seria correta,
Onde ele estaria completo em uma completude inexplicada:
A rocha exata onde sua inexatidão
Descobriria, ao fim, a vista para qual se voltaram
Onde ele poderia repousar e, contemplando o mar abaixo,
Reconhecer seu único e solitário lar.
Não vou estacionar, não vou lamentar! Meu carro já está na rua, só falta acelerar e sair pelo mundo feito um louco moribundo. Em busca do primeiro abismo. Onde eu possa me atirar e reencontrar a mim mesmo. Na sutileza da alma, na fortaleza do espírito e no peso da cruz...
A noite é calma, a rua dorme,
Esteve na casa meu amado a habitar;
Ele deixou a cidade há tempo enorme,
A casa, porém, permanece em seu lugar.

Há também um homem, que mira o firmamento
E retorce as mãos, presa da amargura.
Contemplar sua face causa-me tormento,
A lua me desvela minha própria figura.

Tu, meu duplo! tu, pálido amigo!
Por que zombas da minha dor de amar,
Que me torturou neste lugar
Por tantas noites, em tempo ido?

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Avesso

[ assim ]

aprendi que há coisas que não se pedem.
não é possível pedir amor ou carinho.
não é possível pedir respeito e confiança.
não é possível pedir que não parta. ou que volte.
.
[ a dor inflama todos os sentidos. ]

estrangeiros

afinal não conheço a natureza das palavras. só sei do cansaço e da perda. não sei, apercebo-me, para o que serve isto. o estar aqui. persistir na violência dos equívocos, saber - e insistir - que não há promessa de eternidade que se cumpra, ou dualidade que se faça encontro. somos estrangeiros, cavalgando a morte.

Ecoando notas...

Ouço um violão chorar notas de poesia
Procuro palavras para preencher o espaço
Não as encontro… ou encontro
Mas o espaço não existe
Aquela melodia não precisa de palavras
Enche o ar, a imaginação assim mesmo
Geme de dor, de prazer.
Criada com o coração para outro coração
Assim vai criando um aroma no ar
Cheiro intenso de paixão
Arco… sussurra… flecha… despe-se…
Não há palavras para esta música
Quando ele chora notas de poesia.

Feridas

Nos tantos caminhos dessa vida,
Não encontro a presença da alegria.
Meus passos se arrastam
Minhas asas estão quebradas.
Tenho medo da insanidade que espreita de emboscada.
Alguem ouvirá meu grito de socorro?
Não há linguagem, nem há palavras nos meus lábios
As minhas lágrimas têm sido o meu alimento dia e noite.
Meus dias têm sido cheios de sombras, escuridão.
Às noites, sou como a coruja das ruínas. Não durmo.

É...

Quanto mais me faltas mais o teu corpo me cerca. A tua ausência desperta em mim o apetite que vagarosa e assustadoramente me toma. Em vez de querer falar contigo ou regar as tuas palavras com sorrisos, quero antes que a mudez nos invada e que as nossas bocas tratem de se ocupar mutuamente. Nessas alturas, gostaria de ter a capacidade de uma serpente ovípara em que a mandíbula se desloca para poder beijar de uma só vez o que simplesmente daria uma vida. O que queria mesmo era poder compreender a força motriz que nos afasta para lá do nosso tino. Quando não estás é como se mais nada estivesse no seu e no meu lugar.

Uma noite

O quarto era pobre, comum,
Escondido no sobrado de uma taverna sórdida.
Da janela, via-se um beco estreito e sujo.
De baixo, subiam as vozes dos operários
Jogando cartas e se divertindo.E lá, no humilde leito, no leito plebeu,
Conheci o corpo do amor, conheci
Os lábios vermelhos, carnais da embriaguez.
Tão vermelhos e tão pesados de embriaguez que no momento
Em que escrevo agora, nesta casa solitária,
Depois de tantos anos, sinto-me de novo embriagado.

Origem

Tomaram do prazer proibido
Agora, saem da cama, veste-se
Depressa, sem falar. Separam-se
Deixam a casa às escondidas
E na rua andam inquietos
Temendo que algo em seus corpos
Traia o prazer ao qual se abandonaram.

E tudo isso, para o poeta, que milagre!
Amanhã, depois de manhã, daqui a anos, ele escreverá
Os intensos poemas que aí encontraram sua origem.

Esforça-te, poeta, por retê-las todas,
embora sejam poucas as que se detêm.
As fantasias do teu erotismo.
Põe-nas semi-ocultas, em meio às tuas frases.
Esforça-te, poeta, por guardá-las todas,
quando surgirem no teu cérebro, de noite,
ou no fulgor do meio-dia se mostrarem.

Kaváfis

Quando você partir,em direção a Ícara,
que sua jornada seja longa
repleta de aventuras,plena de conhecimento.
Não tema Laestrigones e Ciclopes nem o furioso Poseidom;
você não irá encontrá-los durante o caminho,se
o pensamento estiver elevado,se a emoção
jamais abandonar seu corpo e seu espiríto.
Laestrigones e Ciclopes,e o furioso Poseidon
não estarão em seu caminho
se você não carregá-los em sua alma,
se sua alma não os colocar diante de seus passos.
Espero que sua estrada seja longa.
Que sejam muitas as manhãs de verão,
que o prazer de ver os primeiros portos
traga uma alegria nunca vista.
Procure visitar os empórios da Fenícia
recolha o que há de melhor.
Vá às cidades do egito,
aprenda com um povo que tem tanto a ensinar.
Não perca Ítaca de vista,
pois chegar lá é o seu destino.
Mas não apresse os seus passos;
é melhor que a jornada demore muitos anos
e su barco só ancore na ilha
quando você já esiver enriquecido
com o que conheceu no caminho.
Não espere que Ítaca lhe dê mais riquezas.
Ítaca já lhe deu uma bela viagem;
sem Ítaca,você jamais teria partido.
Ela já lhe deu tudo,e nada mais pode lhe dar.
Se,no final,você achar que Ítaca é pobre,
não pense que ela o enganou.
Por que você tornou-se um sábio,viveu uma vida intensa,
e este é o significado de Ítaca.

domingo, 21 de setembro de 2008

Esquadros


Eu ando pelo mundo
Prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodovar, cores de Frida Kahlo, cores

Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus

Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Dos meninos que têm fome

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
E as crianças, pra onde correm?
Transito entre dois lados
De um lado, eu gosto de opostos
Exponho o meu modo, me mostro
Eu canto para quem?

Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor, cadê você?
Eu acordei, não tem ninguém ao lado.

sábado, 20 de setembro de 2008

Pessoa.

Está alta no céu a lua e é primavera.
Penso em ti e dentro de mim estou completo.
Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; não sou eu: sou feliz.

Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelos campos,
E eu andarei contigo pelos campos a ver-te colher flores.
Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos,
Mas quando vieres amanhã e andares comigo realmente a colher flores,


Isso será uma alegria e uma novidade para mim.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Tu mudaste a Natureza...

Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima ...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor — Tu não me tiraste a Natureza ...
Tu mudaste a Natureza ...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.