quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Tudo muda. Menos nós

O que é que a gente mais quer na vida? Em primeiro lugar, ser amado, em qualquer sentido - e de preferência, em todos. Um certo ar de afeto, mesmo que não seja nem muito sincero nem muito profundo, é fundamental, seja nas relações sentimentais/amorosas, nas de amizade ou no simples olhar do vendedor da padaria. E quem não consegue despertar afeto em ninguém, se contenta em ser bem-tratado. O que fazer para ser bem tratado? Uma das maneiras mais elementares é pagando - cash. Faça uma experiência: quando chegar num grande hotel de uma grande cidade, ponha, mais ou menos discretamente, uma nota de US$ 50 na mão do porteiro; ele lhe dirá o mais lindo bom-dia que você jamais ouviu, com o mais lindo dos sorrisos. Se depois de três dias você estiver se sentindo pouco triste, precisando de um olhar caloroso, já sabe: mais 50. Se estiver mesmo no fundo do poço, é fácil: com 100 você resolve qualquer problema de eventual carência afetiva. Dinheiro, como disse Nelson Rodrigues, compra tudo, até amor verdadeiro. Mas existem outras maneiras de tentar ser bem-tratado: agradando muito, tendo sempre na ponta da língua um elogio ao penteado novo, se for mulher, à gravata, se for homem, e sobretudo concordando com tudo que o outro diz. É bom que a conversa comece sempre com uma pergunta: "o que você achou do novo plano de Fernando Henrique?" Sua opinião - aliás desnecessária - vai depender da opinião do outro, você estará de acordo com tudo, e os dois serão felizes para sempre, o que não impede que 10 minutos depois você não esteja fazendo a mesma pergunta e concordando - claro - com o ponto de vista oposto. É tão mais fácil viver assim, mas tão mais fácil, que não dá nem para acreditar que exista gente que tem suas próprias opiniões. Está provado que isso quase nunca dá certo. Outra maneira de procurar ser bem-tratado - sobretudo quando se fala de amor - é tratando o outro sempre muito bem e procurando, na medida do possível, adivinhar seus pensamentos. Isso não é senão uma maneira hábil de tentar provocar o mesmo tipo de tratamento - o que, aliás, nem sempre acontece. Nem todas as pessoas suportam ser bem-tratadas, e algumas só funcionam no tranco. Não? Então ponha a memória para funcionar e responda com honestidade. Quantas vezes você foi espezinhada e machucada por um homem e continuou louca por ele? Quantas vezes já ouviu falar de mulheres que fizeram horrores com seus namorados, e eles ali, de quatro, pedindo de joelhos para elas voltarem? Quantas vezes soube de homens e mulheres que depois de terem sido não só traídos - o que, aliás, é o de menos - mas também desprezados, particular e publicamente (bem mais grave), não sossegaram até ter a pessoa de volta, jurando nunca mais falar sobre o passado? Ó vida. Não há regra fixa, claro, mas um casal é como uma balança e, se um dos pratos desce, o outro automaticamente sobe. Experimente fazer todas as vontades de seu parceiro: em pouco tempo ele/ela será o dono(a) da situação, e ai de você se ousar sugerir um restaurante para o almoço dominical: quem está por cima segura as rédeas, e depois que se habitua, dificilmente abre mão de seus privilégios. As histórias costumam se repetir, e quem se habituou a viver com a rédea curta - para dizer o mínimo - é porque gosta. E você, o que prefere? Olhe para trás, lembre-se de antigos episódios, e responda: não é sempre o mesmo filme, que troca apenas de personagem? Costuma ser, e tem mais: quando se consegue encontrar alguém que parece ser exatamente o contrário do anterior, não se sossega enquanto não se transforma esse alguém em alguma coisa muito parecida com o ex, para poder continuar vivendo da maneira que mais gostamos - e assim la nave va. Bem monótona a vida, às vezes; no fundo no fundo, quase sempre igual, mas sabe de quem é a culpa, sempre? De nós mesmos, que não conseguimos mudar. Ou, vai ver, não percebemos; ou não queremos, sei lá.

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